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19 de Abril de 2024

Como Clinton evitou impeachment (e por que cenário de Dilma é mais complicado)

há 8 anos

João Fellet - @joaofelletDa BBC Brasil em Washington

Como Clinton evitou impeachment e por que cenrio de Dilma mais complicado

No fim de 1998, o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, se via diante de ameaça parecida com a que Dilma Rousseff se depara hoje. Clinton respondia no Congresso a um processo de impeachment, acusado de perjúrio e obstrução da Justiça após se envolver sexualmente com uma estagiária dentro da Casa Branca.

O americano foi condenado na votação na Casa dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados), mas acabou inocentado pelo Senado e ficou no cargo até o fim do mandato.

Com seu pedido de impeachment já sendo analisado pela Câmara e enfrentando perspectiva desfavorável entre os deputados, poderia Dilma almejar o mesmo desfecho do caso de Clinton?

Analistas dizem que há diferenças nos dois casos que devem ser levadas em conta na comparação.

Como Clinton evitou impeachment e por que cenrio de Dilma mais complicado

Quando sofreu o processo de impeachment, Clinton gozava de alta popularidade, e a economia dos Estados Unidos se expandia. Já Dilma tem hoje uma das piores avaliações entre todos os presidentes brasileiros, e o país vive uma grave crise econômica.

Outra importante diferença é o teor das acusações contra os dois.

Dilma enfrenta acusações de crime de responsabilidade fiscal - por conta das manobras para melhorar artificialmente as contas do governo, as "pedaladas fiscais" -, em pedido feito pelos juristas Helio Bicudo, Janaina Paschoal e Miguel Reale Jr.

Para o americano David Fleischer, professor de ciência política na Universidade de Brasília, os autores tiveram o cuidado de "evitam incluir outras acusações", como as citadas na delação do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), "com medo de que o Supremo as invalidasse".

Como Clinton evitou impeachment e por que cenrio de Dilma mais complicado

Dilma diz que as pedaladas não justificam o impeachment e que outros presidentes - bem como governadores - se valeram do recurso para fechar suas contas.

Já as acusações contra Clinton, segundo Fleischer, se baseavam numa "questão semântica".

Indagado se havia mantido "relações sexuais" com a estagiária Monica Lewinski, Clinton negou. Posteriormente, porém, o sêmen do presidente foi encontrado na roupa de Lewinski.

Ele então admitiu ter recebido sexo oral da estagiária, mas disse que não considerava o ato uma "relação sexual" e que, portanto, não havia mentido.

A oposição, do Partido Republicano, denunciou-o por perjúrio (falso juramento) e obstrução da Justiça por dar respostas evasivas sobre o caso. "Em termos constitucionais, era uma acusação extremamente frágil", diz Fleishcer.

Outra diferença importante nos dois casos é o apoio de Dilma e Clinton no Congresso.

Quando o americano foi julgado pelo Legislativo, seu partido (Democrata) ocupava quase a metade das cadeiras na Casa dos Representantes e no Senado, o que o ajudou a enterrar o processo.

Já Dilma viu seu apoio encolher drasticamente nos últimos meses com a defecção de partidos da base governista e hoje tem a chancela de pouco mais de um quarto dos congressistas.

Como Clinton evitou impeachment e por que cenrio de Dilma mais complicado

Além disso, diz o professor de Relações Internacionais da American University Matthew Taylor, o vice de Dilma, Michel Temer, pertence a um partido (PMDB) que defende o impeachment da presidente, enquanto o vice de Clinton era do mesmo partido que ele.

A posição do vice é decisiva no caso brasileiro, afirma Taylor, já que Dilma será afastada caso o Senado acolha o processo de impeachment, mesmo antes de julgar o mérito da denúncia.

Ou seja, Temer assumiria a Presidência antes do desfecho do processo e poderia negociar com o Congresso para garantir que Dilma seja de fato derrotada na votação final.

"Isso põe no caso brasileiro recursos na mão do vice-presidente que podem ser usados para influenciar a decisão do Senado", diz Taylor.

Apesar das diferenças, o professor afirma que nos dois casos "fica muito claro que o impeachment é baseado num cálculo mais político que jurídico".

Ele afirma que, assim como nos Estados Unidos jamais um presidente havia sido impedido por perjúrio, no Brasil nenhum presidente deixou o cargo por "pedaladas fiscais".

Em artigo recente, a revista Forbes diz que Dilma talvez não siga os passos de Clinton, mas sim os do presidente Richard Nixon.

Nixon caiu por envolvimento no escândalo do Watergate, quando um grupo a serviço de seu partido (Republicano) invadiu o escritório de um político rival para instalar grampos e fotografar documentos.

Como Clinton evitou impeachment e por que cenrio de Dilma mais complicado

Acusado de obstruir as investigações sobre o caso, o presidente se via ameaçado de sofrer um impeachment, mas renunciou antes que o Congresso analisasse a denúncia.

"Dilma poderia dar uma de Nixon e renunciar antes que o processo de impeachment termine, preservando a reputação ao dizer que está ouvindo o povo e saindo 'pelo bem do país'", diz a Forbes.

A revista cita as declarações da presidente de que não renunciará, mas lembra que Fernando Collor deixou o posto antes do desfecho de seu processo de impeachment. "Se as cartas parecerem ruins, ela pode ter de descartá-las ou ir embora."

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7 Comentários

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Aí que está o problema. Dilma não pensa no Brasil. Poderia ao menos mentir e dizer que pensa no país e por isto deixaria a presidência. Mas nem isto ela faz. continuar lendo

Isso é resquício da fase terrorista de sua vida. Ela imagina que "luta" contra uma "ditadura", que está no seu imaginário afetado pelo esquerdismo. Vive numa bolha ideológica. continuar lendo

Como diz o professor Taylor, "fica muito claro que o impeachment é baseado num cálculo mais político do que jurídico" e eu concordo com ele. Como pode um suposto crime de responsabilidade fiscal ou qualquer crime que seja ser julgado politicamente? Muito me entristece ver que há muitos que não vêem perigo nisto. Não é apenas triste. É amedrontador. Mostra que qualquer presidente pode fazer o que quiser, desde é claro que tenha os amigos certos no congresso. Boa sorte Brasil. continuar lendo

É um dos motivos de serem tantos no senado e tantos na câmara, ou seja, para dificultar as influências. Mas é bom para o país, pois, saberão que as contas devem ser fechadas dentro da legalidade e não em pedaladas. O PT ainda vai ser bom para o país, mas, como oposição do governo e não como governo. Eles não podem ter o poder de governar, e sim o de fiscalizar.
Só para isso eles servem.
E que assim seja! continuar lendo

Em sendo ela uma PRESIDENTA que só pensa em si mesma não acredito em sua renúncia o que, diga-se de passagem, seria a sua melhor saída. continuar lendo

Importante lembrar de post de outrem que circulou aqui no Jusbrasil mês passado que informa ser retórico o discurso de que Dilma "lutou contra a ditadura" e portanto - em uma conclusão falha - "a favor da democracia", na verdade ela lutava pela instauração de outra ditadura, a do proletariado. Neste sentido, observe passagem de dito post: "Eduardo Jorge, ex-candidato à Presidência da República, admitiu, em entrevista, que a luta armada no Brasil visava à instauração da"Ditadura do Proletariado", não à defesa da democracia em contraposição a um regime autoritário. A declaração se opõe a alegações da candidata e presidente Dilma Rousseff, que afirma ter, na luta armada, defendido a democracia." continuar lendo